Análise
do sujeito aprendente na personagem Macabéa (A Hora da Estrela) a partir dos teóricos Piaget, Vygotsky e Wallon
Fabiana Pereira Dias
Ludemberg Pereira
Dantas
Magali Santana Santos
Freitas
Mauro Jakes Farias da
Cruz
O presente trabalho
apresenta uma análise da personagem Macabéa da obra “A Hora da Estrela” de
Clarice Lispector, abordando a construção do sujeito aprendente na visão de
Piaget, Vygotsky e Henri Wallon, estudiosos do comportamento humano.
Fazer referências ao
sujeito no seu desenvolvimento epistemológico é ter a oportunidade de ir de
encontro às suas diversas faces, seus diversos comportamentos em relação ao ser
em si, ao ser e ao seu próximo e ao ser no mundo, percebendo o quanto que de si
existe no seu eu e o quanto do si falta para sua existência.
Macabéa era uma menina
simples, com uma vida sofrida, órfã de pai e mãe, oprimida por si mesmo, não
queria incomodar, pedia desculpa o tempo todo a fim de não ser rejeitada, mas,
mesmo assim, sua diferença se dar em relação à sua inocência em estar no mundo.
O que explica o ser
racional se comportar com tais atitudes de Macabéa? Como entender uma
acomodação, uma rejeição, uma opressão, uma não existência? Como classificar o
sujeito no seu desenvolvimento comportamental humano?
Para entender melhor o
desenvolvimento de um comportamento infantil, por exemplo, Piaget explica que a
criança passa por todo um processo de formação, onde ela, na sua “ingenuidade”,
acaba acatando tudo que lhe vem ao seu redor, a partir dos estímulos externos, fazendo
assim, uma construção de sua própria identidade, se mostrando envolvida no
espaço social.
A criança se desenvolve em
fases, sendo ela capaz de criar uma assimilação e conseqüentemente uma
acomodação, graças à repetição de ações, a fim de acontecer um processo de
equilibração que, segundo Piaget é nesse momento que se tem a aprendizagem. Esses
esquemas são refletidos na pessoa quando adulta.
Neste sentido, Macabéa não
tinha consciência de si, do seu estar no mundo, vivenciava ainda a fase da
infância, como assim afirma Piaget, que a criança é capaz de repetir sem
questionar o que vê e o que ouve, assim acontece com a personagem quando a
mesma é capaz de reproduzir o que ouve no rádio. Não se percebe um envolvimento
com o meio social, pois a mesma não interagia com as pessoas de sua família e
do trabalho.
Essa moça não sabia que ela era o que era, assim como
um cachorro não sabe que é cachorro. Daí não sentir infeliz. A única coisa que
queria era viver. Não sabia para que, não se indagava. (Lispector, p.42, 1995)
Com tudo isso, percebe-se
na personagem uma dificuldade de equilibração e compreensão de mundo,
supostamente atribuído a uma vida cheia de dificuldades, sem oportunidades de
vivencia na família, de mais tempo na escola e no meio social e por ter sido
muito reprimida pela tia que a criara o que segundo Vygotsky, o meio social é
de fundamental importância para o desenvolvimento humano, pois é neste em que
as pessoas se envolvem culturalmente e interagem entre si.
Uma das principais influências no desenvolvimento humano é a imersão
deste na sua cultura. Por meio da interatividade, se aprende, se descobre e se
desenvolve no meio em que vive, constrói-se novas formas de atuação no contexto
sócio-cultural.
Em consideração aos
conceitos do “Psicólogo e Educador Henri Wallon” a respeito do comportamento
humano, leva-se em consideração que seus estudos estão em volta do ensinar e
aprender no processo de desenvolvimento do indivíduo. Com Macabéa em destaque,
se percebe que a imagem apresentada da personagem é fruto da sua falta de oportunidade
em aprender sobre a vida, uma vez que ela se torna uma adolescente solitária,
sem a presença familiar e amiga, capazes de lhe oferecerem auto-estima,
encorajamento, afetividade possibilitando interação de forma dinâmica em sua
realidade.
O período vivenciado por Macabéa
na escola foi muito curto “... só tinha
até o terceiro ano primário”,
(Lispector, p. 29, 1995) o qual não contribuiu na construção de sua
identidade, e nem incentivos de deparar-se com conhecimentos necessários e
fundamentais para sua evolução. Essa perspectiva é presente nos conceitos de
Wallon, quando ele afirma que:
“o
desenvolvimento é recheado de conflitos internos e externos, esses conflitos
são formadores de evoluções, pois conferem ao indivíduo novas formas de
interação social e formação de pensamentos, que contribuem para a construção do
ser humano”.
Wallon, em suas teorias
considera que a integração faz-se necessária em dois sentidos para o
desenvolvimento do comportamento na criança:
“Integração organismo-meio: Interação da criança com o
meio, uma relação que se complementa com os fatores orgânicos e socioculturais.
Há a necessidade do estudo aprofundado do meio em que a criança se desenvolve
ele precisa corresponder a suas necessidades”.
“Integração afetiva-cognitiva-motora: Esse conjunto
representa a pessoa como um todo, com a integração em todas as possibilidades:
as emoções, o corpo e mente”. (http://claudiaandr.wordpress.com/educacao)
Assim, entende-se que
Macabéa é fruto de uma falta de oportunidades com o meio social, desde o
momento que vive sem família, sem amigos, sem a presença e calor afetivo de
outras pessoas, capazes de lhe proporcionar atenção necessária para que ela se
sinta presente socialmente, emocionalmente, fisicamente, psicologicamente. Com
isso, a Macabéa de Clarice Lispector segue sua caminhada, mesmo sem destino,
sonhos, objetivos; ela simplesmente não se percebe de fato existindo na sua
especificidade humana. “... ela somente
vive, inspirando e expirando, inspirando e expirando... o seu viver é ralo”. (Lispector,
p. 40, 1995).
Esse estudo sobre a personagem trazida
por Clarice Lispector é fruto de uma avaliação do homem, no seu processo
funcional, sendo percebido ou despercebido, em uma sociedade que se reflete
diante a falta de valorização e reconhecimento do próximo.
Macabéa nasce na intenção de oferecer a imagem
de uma jovem que não teve atenção necessária para se formar na sua educação
infantil, crescendo uma adolescente leiga, sem carinho, sem conforto,
formando-se uma jovem desprotegida, desemparada e sem conhecimentos.
O momento em que Macabéa se percebe em
um estado de existência é quando passa a ter conselhos de uma Cartomante,
indicada por uma colega de trabalho (a qual lhe rouba seu namorado), para viver
em busca de uma maior realização e valorização de sua pessoa, oferecendo-lhe
sonhos, para seguir como uma moça que terá um amor capaz de lhe transformar e
lhe satisfazer como mulher.
Por fim, é evidente que as relações
interpessoais e socioculturais favorecem a formação do sujeito aprendente.
Neste sentido, fica claro que os elogios de uma cartomante à Macabéa fazem com
que a mesma se perceba e se reconheça como gente no mundo, capaz de sonhar e
ser feliz.
O presente trabalho possibilitou a
compreensão do processo de formação do sujeito aprendente, levando em
consideração a diversidade de personalidades envolvidas no espaço formativo,
respeitando o biológico, social e afetivo do sujeito, como parte integrante
deste processo.
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