Modernismo
Brasileiro
Gilberto Mendonça Teles, em seu livro: Vanguarda Europeia e Modernismo
Brasileiro, trata o Modernismo Brasileiro citando de início Graça Aranha,
romancista, membro da Academia Brasileira de Letras e diplomata. Faz referência
à influência francesa nas concepções de Graça Aranha, quando em sua preocupação
com o “espírito moderno” e sua participação na Semana de Arte Moderna, no
Teatro Municipal de São Paulo, movimento esse de grande valia para a literatura
e os jovens da época.
Mário da Silva Brito, com o livro História do Modernismo Brasileiro,
considerado até os dias atuais o melhor historiador do Modernismo, apresenta o
movimento como uma temática que reaproveitaria e vinha a adquirir privilégios
de uma cidadania artística. O autor cita Mário Pederneiras, na poesia e Adelino
de Magalhães, na prosa, inscritos como os precursores do Movimento Moderno.
De início, vemos certa “divergência” entre os autores acima estudados
(Gilberto Mendonça Teles e Mário da Silva Brito), ambos apresentam o Movimento
Modernista com certa “relevância de padrões”. De início, Mendonça prioriza
Graça Aranha, como idealizador do movimento, já Mário Brito, classifica Mário
Pederneiras e Adelino Magalhães como possíveis precursores ao movimento,
havendo assim diferença à compreensão no “surgimento” da “Era Moderna”, em
favor de um movimento literário que veio transformar o Brasil na sua posição de
país moderno e efetivamente mais participativo das questões literárias,
culturais e político-sociais.
Desde o ano de 1920 que existem certas preocupações modernistas, sendo os
“antigos futuristas”, moradores de grandes centros urbanos, como São Paulo, os
que já traziam suas indagações. Tudo é futurismo e todos são futuristas. “Mas
parece que o nome de Semana de Arte Moderna foi mesmo escolhido por Graça
Aranha, que devia saber da programação do Congresso do Espírito Moderno para
março de 1922, tanto que a nossa Semana foi marcada antecipadamente para
fevereiro”. (Gilberto Pg. 276).
Graça Aranha, no seu envolvimento com a Semana de Arte Moderna, se
colocou como membro principal para que de fato houvesse essa “amostra”, que
aconteceu nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922. Fez a abertura, trazendo a
conferência intitulada “A emoção estética na arte moderna”, com números de
músicas e grandes declarações. Em seguida, houve mais participações a exemplos
de Ronald de Carvalho, Menotti del Picchia, ambos trazendo a importância da
cultura, da escultura, da Arte Moderna no Brasil, havendo também vaias do
público para Menotti em suas declamações, isso nas credenciais de abertura do
movimento.
Músicas como Villa-Lobos, foram apresentadas no último dia. Mário da
Silva apresenta Anita Malfatti como exemplo de artista plástica, presente
também na Semana de Arte Moderna. Ele conclui que todo aquele movimento levava
o Brasil a interagir nas questões culturais, econômicas, políticas e
socioeconômicas do novo tempo, aonde o mundo já se encontrava em um momento de
mudanças.
Gilberto Mendonça segue suas afirmações levando em consideração que o
Movimento Modernista Brasileiro é fruto de um passado histórico, onde a Semana
de Arte Moderna também faz sentido ao passado de grandes momentos, como:
futuristas, expressionistas, cubistas, dadaístas, espiritonovistas; oferendo
para a literatura brasileira, ponto de partida para o novo século, com ideias,
valores, essência e elementos culturais, visto com incentivo à linguagem, ou
seja, a valorização sempre da literatura e demais artes.
A inquietação literária, na década de 20, fez da literatura uma arte
sempre na vida e no propósito da humanidade. As escritas oferecendo
conhecimento, liberdade de expressão e sentimento, a exemplos dos folhetins,
revistas e jornais literários, com toda uma repercussão do modernismo nos
Estados, como as revistas Klaxon (1922) de São Paulo, Estética (1924) do Rio,
Nova Era da Paraíba (João Pessoa) e Arco e flecha (1928) de Salvador. Toda essa
literatura passou a fazer do Brasil um país de mudança cultural, onde o moderno
reinava e a humanidade vivia um novo tempo, uma nova história.
No capítulo, A Emoção Estética na Arte Moderna, Gilberto Mendonça trata
da beleza como uma arte. Mas afinal o que é a beleza? “Eis o mistério da arte,
insolúvel em todos os tempos, porque a arte é eterna e o homem é por excelência
o animal artista”. “É na essência da
arte que está a Arte”. (Gilberto Pg. 281).
Cada homem é um artista, apresentando
no seu consciente a certeza do belo, da arte.
A filosofia, no seu caráter de valorização e entendimento da vida,
possibilita ao homem a oportunidade de lhe inserir na sociedade, dono de suas
mudanças e capaz sempre de encontrar novos caminhos, novas perspectivas. Falar
de moderno é sempre esperar o novo. Gilberto Mendonça, no seu trabalho em
destaque, cita o Renascimento, movimento artístico da Idade Média, que visava o
renascer de novas vidas, uma nova geração.
“É preciso erguer-se mais o sentimento de nacionalidade artística e
literária, desdenhando-se menos o que é pátrio, nativo e nosso; e os poetas e
escritores devem cooperar nessa grande obra de reconstrução” (Brito Pg. 17).
Sensibilidade, subjetivismo, individualismo, todos esses elementos
fundamentais para caracterizar o que vinha a ser considerada Arte Moderna. O
indivíduo como base da estrutura social, precursor de toda uma cultura de
valores e “responsável” pelas desordens também. O homem como criador de sua
própria história, livre para sonhar. “Mussolini proclamaria, mesmo, que o mundo
moderno precisa antes de tudo de poetas” (Brito Pg. 20).
Mendonça não deixa de citar o cânon, uma vez que o próprio se reconhece
na sua especificidade, capaz de ter uma liberdade absoluta e assim, reconhecer
e se fazer reconhecido de suas escritas, seu pensamento no intuito de
considerar a palavra como a busca de novos significados. A Arte Moderna na sua
essência, no seu infinitivo, numa visão de arte libertadora. Intelectualismo,
objetivismo, ambos no seu envolvimento da cultura como necessária a permanência
de uma sociedade.
“Louvemos aqueles poetas que se libertam pelos seus próprios meios e cuja
força de ascensão lhes é intrínseca. Muitos deles se deixaram vencer pela
morbidez nostálgica ou pela amargura da farsa, mas num certo instante o toque
da revelação lhes chegou e ei-los livres, alegres, senhores da matéria
universal que tornam em matéria poética.” (Gilberto Pg. 284).
A arte no seu envolvimento possibilita ao homem uma percepção do novo. O
artista usando de um dom envolvido pela alma oferece a um público espectador a
garantia de novos horizontes, novas formas, novos caminhos, sejam na emoção de
um verso, de uma imagem, de uma palavra, de um som à transformação do nosso
ser, ou seja, a arte e o homem sempre em
companhias favoráveis a novos meios, novos frutos.
Estamos em tempos de realidades e violências. Cada homem deve procurar
atuar de acordo com o seu temperamento, agindo com sinceridade. Queremos
transmitir nossa espontaneidade dentro da mais espontânea liberdade. “Sermos
como somos, sinceros, sem artificialismo”. “Queremos escrever com sangue – que
é humanidade; com eletricidade – que é o movimento, expressão dinâmica do
século; violência – que é energia bandeirante” (Gilberto Pg. 291).
Nomes como Machado de Assis e Euclides da Cunha, fluentes do movimento
moderno, por apresentarem uma literatura de cunho funcional e inquietante, se
fizeram fundamentais para que a Era Moderna continuassem numa expansão, no
momento em que, ambos, resolvem desaparecer sem deixarem absolutamente nenhum
sucessor, e a Academia Brasileira de Letras “vivia de suas glórias anteriores”.
Oswald de Andrade passa através de movimento Moderno, a ser reconhecido
como o poeta que na sua geração contemporânea, no início da sua carreira
literária, valorizava a geração parnasiana, tendo como exemplo a autora Eça de
Queiroz. “Éramos parnasianos na prosa e no verso” (Brito Pg. 28). Com uma
valorização aos cânones acadêmicos, prezando a inovação, a modernização, a
libertação, Oswald de Andrade, na sua nacionalidade, busca pelas raízes
nacionais.
Já Mário de Andrade, nome forte ao Modernismo Brasileiro, apresenta na
sua literatura uma preocupação também ao nacionalismo, onde “dizia sentir na
mocidade brasileira de hoje, além de um exaltado amor pelo Brasil, um como que
desejo de sacrifício” (Brito Pg. 68).
É considerada essa visão patriota
tanto em Oswald como em Mário de Andrade, onde se vê na leitura do livro (Vanguarda
europeia e modernismo brasileiro) de Gilberto Teles, o destaque que Mário
de Andrade prioriza, citando os textos e livros: “O movimento modernista, além da metalinguagem das “Cartas” e dos livros
de crítica “O Empalhador de passarinho, Aspectos da literatura brasileira e O
Baile das quatro artes””.
Todos, com uma formalização do sentido em que o movimento moderno viria a
representar para a literatura brasileira a diante. Seguindo assim, uma
organização de ideias, fontes bibliográficas, autores e demais fluentes na
significação do “poder moderno”, essa visão muito assemelhada nos autores e
obras acima.
Fazendo essa relação entre os autores Gilberto Mendonça Teles e Mário da
Silva Brito, sobre o movimento Modernista Brasileiro, percebe-se o quanto que
duas obras de historiografias literárias podem apresentar tanto semelhanças
quanto diferenças entre abordagens de diversos temas.
Sendo o Modernismo um encontro a uma nova geração, é imprescindível
deixar de concluir que o seu objeto de estudo em destaque é o homem e sua arte.
O Brasil passa através da Literatura, com o Modernismo, a se posicionar frente
a uma crescente marca de significados, esses que sempre trarão novas formas,
novos estilos, novas vidas, fazendo assim do mundo contemporâneo, um início a
novos tempos.
REFERÊNCIAS
TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda
européia e modernismo brasileiro. Rio de Janeiro: Editora
Petrópolis;
BRITO, Mário da Silva. História do modernismo brasileiro. 6. ed.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.
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