segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Fernando Pessoa

Fernando Pessoa


Ludemberg Pereira Dantas

Fernando Pessoa trouxe nos seus ideais pensamentos cultos, objetivos grandiosos para o entendimento da vida humana. "Pesava que as nações todas são mistérios e cada uma é todo o mundo a sós". Com essa ideologia, Pessoa constrói uma poesia capaz de despertar no homem a certeza da valorização da vida. Como fonte de inspiração para as suas afirmações, usa Portugal como exemplo de todas as virtudes nacionalistas. Portugal, país de novas terras e novos céus. Um mergulho nas essências de uma nação a qual faz privilégio de sua atenção.

Usando como filosofia de vida a certeza de que Tudo e Nada são indefinidamente reversíveis. Desejo de querer ser tudo de todas as maneiras. Com essa garantia, o caráter humano surge na certeza de que o dia-a-dia deve ser preenchido com a força e a valorização da existência. Admirando os portugueses, Pessoa os descreve como "um povo discreto no meio dos outros, sempre pronto, na aparência, a trocar a sua identidade pela dos outros, na realidade nunca abandonou o seu ponto de partida. Um tal povo, tão à vontade no mundo como se estivesse em casa”. “Eu não sei o que o amanhã trará", última frase escrita pouco antes de seu falecimento. Questionava os valores da vida, o amanhã, a certeza, a incerteza. Eduardo Lourenço aparece também como o filósofo existencialista, aproximando-se da modernidade de Fernando Pessoa.

Pessoa tinha uma grande riqueza de cultura e conhecimento, a ponto de chegar a criar personagens, heterônimos, tornando-se singulares. Homens pensadores que, assim como o próprio tinham o dom do convencimento das palavras. Entre eles, destaca-se Alberto Caeiro e Álvaro de Campos, cada qual com seu desempenho e intelectualidade nata. Caeiro nasce como um sujeito de linguagem simples, com busca do natural, usando a realidade sensorial, a imagem coerente, lógica e espontânea. Já com o heterônimo Álvaro de Campos, Pessoa constrói um sujeito que teve uma educação vulgar, mandado a estudar engenharia mecânica e naval que, conseqüentemente, se fixa um pensador decadentista, ou seja, com uma visão pessimista do mundo, com poemas desiludidos; também se torna um poeta futurista, com grandes inspirações. Assim, a pessoa de Fernando se multiplica em outros para darem seqüência com a sabedoria.

Fernando Pessoa, com sua postura intelectualizada, busca abarcar a realidade de todos os ângulos e perspectivas possíveis. Mestre dos jovens escritores, sua poesia predomina o poder do aconselhamento. Não se limita a expressar sentimentos. Insiste em se questionar e a questionar a sociedade, buscando sua realidade, verdades e valores, ajudando o homem a conhecer melhor a si e aos outros e ao mundo em que vivem, em fim, o escritor de língua portuguesa sobre quem mais se escreve e de quem mais se fala nos últimos tempos. Entre inúmeras as frases de sua autoria, como "O poeta é um fingidor", "O mito é o nada que é tudo", "Tudo vale a pena, se a alma não é pequena", traduzem verdades que aproxima o homem de sua realidade. Com toda sua grandeza, o poeta, que não mais se faz presente, deixa a certeza de sua forte existência nos livros.

Mensagem foi seu único livro publicado em vida, divulgado nos anos 40, com público reduzido entre críticos literários, escritores e professores. Em 1958, começa sua divulgação em maior escala. Uma obra composta de 44 poemas, conhecido como "livro pequeno de poemas", tratando do glorioso passado de Portugal, com imensa apologia ao local. Exalta o estilo camoniano e valoriza os heróis do passado, como os Descobrimentos portugueses, tendo a exemplo o poema Mar Português.

Autopsicografia é um dos poemas mais conhecidos que Fernando Pessoa escreveu. Expressa a sua própria definição poética, usando da característica fingimento como uma forte definição ao que o homem é ou deixa de ser: "O Poeta é um fingidor, Finge tão completamente, Que chega a fingir que é dor, A dor que deveras sente". Retrata a imensa profundidade entre o homem e sua existência. A grafia presente na palavra, expressa a escrita, a composição poética. Um poema que traz em si a certeza e grandiosidade em mostrar um ser próprio de características e pensamentos.

Presente em todo momento, o fingimento traz a certeza de que o poeta transmite em seus versos a verdade de que o ideal é informar, não com a exata realidade ou ficção, mais sim, transformar o que pode ser mentira em realidade e vice versa. Apesar de todo convencimento, o poeta sempre acaba fingindo. Finge sentir a dor, a saudade, o sonho, o medo, a verdade, a mentira. Finge, finge e finge. Mas, transforma essa "incerteza" em palavras de alto crescimento e repercussão diante aos acontecimentos da vida. Fernando Pessoa sempre usou do fingimento, a ponto que expressa suas palavras com a intenção de ser e parecer.

Classificar Fernando Pessoa e determinar suas características torna-se algo quase que "impossível", uma vez em que se fala de um homem poeta que leva a público as questões da vida, com relação entre verdade, existência e identidade, predominando o mistério do que realmente é a identidade humana. Ele mesmo é toda uma literatura, onde reúne uma revisão da cultura portuguesa, invocando a filosofia para assim levar o homem a pensar e questionar-se.

É gratificante saber que a palavra, a literatura, o poema, o texto, são indispensáveis para a formação, construção e educação do homem. Todo homem deve propor-se à favor do poder objetivo, do domínio da língua, da vida prática; aceitar as coisas de maneira tranqüila. Assim, viveu e vive Fernando dentro de todas as pessoas mensageiras da Terra, que tem a intenção de trazer para o momento a certeza de que a vida vale à pena.