sábado, 24 de setembro de 2011

Análise do sujeito aprendente na personagem Macabéa (A Hora da Estrela) a partir dos teóricos Piaget, Vygotsky e Wallon


Análise do sujeito aprendente na personagem Macabéa (A Hora da Estrela) a partir dos teóricos Piaget, Vygotsky e Wallon

 

Fabiana Pereira Dias
Ludemberg Pereira Dantas
Magali Santana Santos Freitas
Mauro Jakes Farias da Cruz


O presente trabalho apresenta uma análise da personagem Macabéa da obra “A Hora da Estrela” de Clarice Lispector, abordando a construção do sujeito aprendente na visão de Piaget, Vygotsky e Henri Wallon, estudiosos do comportamento humano.
Fazer referências ao sujeito no seu desenvolvimento epistemológico é ter a oportunidade de ir de encontro às suas diversas faces, seus diversos comportamentos em relação ao ser em si, ao ser e ao seu próximo e ao ser no mundo, percebendo o quanto que de si existe no seu eu e o quanto do si falta para sua existência.
Macabéa era uma menina simples, com uma vida sofrida, órfã de pai e mãe, oprimida por si mesmo, não queria incomodar, pedia desculpa o tempo todo a fim de não ser rejeitada, mas, mesmo assim, sua diferença se dar em relação à sua inocência em estar no mundo.
O que explica o ser racional se comportar com tais atitudes de Macabéa? Como entender uma acomodação, uma rejeição, uma opressão, uma não existência? Como classificar o sujeito no seu desenvolvimento comportamental humano?
Para entender melhor o desenvolvimento de um comportamento infantil, por exemplo, Piaget explica que a criança passa por todo um processo de formação, onde ela, na sua “ingenuidade”, acaba acatando tudo que lhe vem ao seu redor, a partir dos estímulos externos, fazendo assim, uma construção de sua própria identidade, se mostrando envolvida no espaço social.
A criança se desenvolve em fases, sendo ela capaz de criar uma assimilação e conseqüentemente uma acomodação, graças à repetição de ações, a fim de acontecer um processo de equilibração que, segundo Piaget é nesse momento que se tem a aprendizagem. Esses esquemas são refletidos na pessoa quando adulta.
Neste sentido, Macabéa não tinha consciência de si, do seu estar no mundo, vivenciava ainda a fase da infância, como assim afirma Piaget, que a criança é capaz de repetir sem questionar o que vê e o que ouve, assim acontece com a personagem quando a mesma é capaz de reproduzir o que ouve no rádio. Não se percebe um envolvimento com o meio social, pois a mesma não interagia com as pessoas de sua família e do trabalho.
Essa moça não sabia que ela era o que era, assim como um cachorro não sabe que é cachorro. Daí não sentir infeliz. A única coisa que queria era viver. Não sabia para que, não se indagava. (Lispector, p.42, 1995) 
Com tudo isso, percebe-se na personagem uma dificuldade de equilibração e compreensão de mundo, supostamente atribuído a uma vida cheia de dificuldades, sem oportunidades de vivencia na família, de mais tempo na escola e no meio social e por ter sido muito reprimida pela tia que a criara o que segundo Vygotsky, o meio social é de fundamental importância para o desenvolvimento humano, pois é neste em que as pessoas se envolvem culturalmente e interagem entre si. 
Uma das principais influências no desenvolvimento humano é a imersão deste na sua cultura. Por meio da interatividade, se aprende, se descobre e se desenvolve no meio em que vive, constrói-se novas formas de atuação no contexto sócio-cultural.
Em consideração aos conceitos do “Psicólogo e Educador Henri Wallon” a respeito do comportamento humano, leva-se em consideração que seus estudos estão em volta do ensinar e aprender no processo de desenvolvimento do indivíduo. Com Macabéa em destaque, se percebe que a imagem apresentada da personagem é fruto da sua falta de oportunidade em aprender sobre a vida, uma vez que ela se torna uma adolescente solitária, sem a presença familiar e amiga, capazes de lhe oferecerem auto-estima, encorajamento, afetividade possibilitando interação de forma dinâmica em sua realidade.
O período vivenciado por Macabéa na escola foi muito curto “... só tinha até o terceiro ano primário, (Lispector, p. 29, 1995) o qual não contribuiu na construção de sua identidade, e nem incentivos de deparar-se com conhecimentos necessários e fundamentais para sua evolução. Essa perspectiva é presente nos conceitos de Wallon, quando ele afirma que: 
 “o desenvolvimento é recheado de conflitos internos e externos, esses conflitos são formadores de evoluções, pois conferem ao indivíduo novas formas de interação social e formação de pensamentos, que contribuem para a construção do ser humano”. 
Wallon, em suas teorias considera que a integração faz-se necessária em dois sentidos para o desenvolvimento do comportamento na criança:
Integração organismo-meio: Interação da criança com o meio, uma relação que se complementa com os fatores orgânicos e socioculturais. Há a necessidade do estudo aprofundado do meio em que a criança se desenvolve ele precisa corresponder a suas necessidades”.
“Integração afetiva-cognitiva-motora: Esse conjunto representa a pessoa como um todo, com a integração em todas as possibilidades: as emoções, o corpo e mente”.  (http://claudiaandr.wordpress.com/educacao) 
Assim, entende-se que Macabéa é fruto de uma falta de oportunidades com o meio social, desde o momento que vive sem família, sem amigos, sem a presença e calor afetivo de outras pessoas, capazes de lhe proporcionar atenção necessária para que ela se sinta presente socialmente, emocionalmente, fisicamente, psicologicamente. Com isso, a Macabéa de Clarice Lispector segue sua caminhada, mesmo sem destino, sonhos, objetivos; ela simplesmente não se percebe de fato existindo na sua especificidade humana. “... ela somente vive, inspirando e expirando, inspirando e expirando... o seu viver é ralo”. (Lispector, p. 40, 1995). 
Esse estudo sobre a personagem trazida por Clarice Lispector é fruto de uma avaliação do homem, no seu processo funcional, sendo percebido ou despercebido, em uma sociedade que se reflete diante a falta de valorização e reconhecimento do próximo.
 Macabéa nasce na intenção de oferecer a imagem de uma jovem que não teve atenção necessária para se formar na sua educação infantil, crescendo uma adolescente leiga, sem carinho, sem conforto, formando-se uma jovem desprotegida, desemparada e sem conhecimentos.
O momento em que Macabéa se percebe em um estado de existência é quando passa a ter conselhos de uma Cartomante, indicada por uma colega de trabalho (a qual lhe rouba seu namorado), para viver em busca de uma maior realização e valorização de sua pessoa, oferecendo-lhe sonhos, para seguir como uma moça que terá um amor capaz de lhe transformar e lhe satisfazer como mulher.
 Por fim, é evidente que as relações interpessoais e socioculturais favorecem a formação do sujeito aprendente. Neste sentido, fica claro que os elogios de uma cartomante à Macabéa fazem com que a mesma se perceba e se reconheça como gente no mundo, capaz de sonhar e ser feliz.
O presente trabalho possibilitou a compreensão do processo de formação do sujeito aprendente, levando em consideração a diversidade de personalidades envolvidas no espaço formativo, respeitando o biológico, social e afetivo do sujeito, como parte integrante deste processo.

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