sexta-feira, 10 de agosto de 2012

FICHAMENTO DE TRANSCRIÇÃO: CAMPOS, Haroldo de. O sequestro do barroco na formação da literatura brasileira: o caso de Gregório de Matos / Haroldo de Campos. – Salvador. FOJA, 1989.


FICHAMENTO DE TRANSCRIÇÃO

Referência bibliográfica:

CAMPOS, Haroldo de. O sequestro do barroco na formação da literatura brasileira: o caso de Gregório de Matos / Haroldo de Campos. – Salvador. FOJA, 1989.


Ludemberg Pereira Dantas


  • Se há um problema instante e insistente na historiografia literária brasileira, este problema é a “questão da origem”. (p. 7);

  • “Teria realmente existido no século XVII um grande poeta brasileiro chamado Gregório de Mattos”? (p. 8);

  • “Gregório de Mattos foi sem dúvida uma das maiores figuras de nossa literatura”. (p. 9);

  • Um dos maiores poetas brasileiros anteriores à Modernidade, aquele cuja existência é justamente mais fundamental para que possamos coexistir com ela e nos sentirmos legatários de uma tradição viva, parecendo não ter existido literariamente “em perspectiva histórica”. (p.10);

  • O MITO É O NADA QUEÉ TUDO, completa Fernando Pessoa no mesmo poema. (p.10);

  • “A nossa literatura é galho secundário da portuguesa, por sua vez arbusto de segunda ordem no Jardim das Musas”... (p.13);

  • A leitura “com discernimento”, desde que amorosa, “anima” as obras. (p. 14);

  • “Ninguém, além de nós, poderá dar vida a essas tentativas muitas vezes débeis, outras vezes fortes, sempre tocantes, em que os homens do passado, no fundo de uma terra inculta, em meio a uma aclimação penosa da cultura europeia, procuravam estilizar para nós, seus descendentes, os sentimentos que experimentavam as observações que faziam, - dos quais se formaram os nossos”. (p. 14);
  • O conceito metafísico de história, segunda Derrida, envolve a ideia de linerariedade e a de continuidade: é um esquema linear de desenrolamento da presença, obediente ao modelo “épico”. (p. 15);
  • A “perspectiva histórica” é, pois, uma perspectiva ideológica. E como tal se manifesta, quando o critério de pertinência que a rege é explicitado. (p. 16);
  • A arte é definida como “comunicação expressiva, expressão de realidade profundamente radicadas no artista, mais que transmissão de noções e conceitos”. (p. 22);
  • A essa orientação voltada para o DESTINATÁRIO, Jakobson denomina FUNÇÃO CONATIVA (do latim, conatum: impulso, esforço, ação que procura impor-se a uma resistência ou suscitar uma reação). (p. 25);
  • A literatura que privilegia a função EMOTIVA é, na lição de Jakobson, a literatura romântica, expressão do eu- lírico. (p. 28);
  • Por essa óptica dirigida é enfocada na Formação o que seja “literatura” enquanto “sistema simbólico”; todavia, ao conceito assim resultante, se confere caráter definitório geral. Ou seja, no conceito definidor, as características distintivas do que seja “literatura” são tomadas de empréstimo à visão especifica e particularizante que, do fenômeno literário, se faz o próprio Romantismo. (p. 30);
  • “Perspectiva histórica”, “ponto de vista histórico” (I,24), “orientação histórica” (I,25) são expressões que não podem ser aceitas como verdade objetivas, dotadas de unicidade de sentido, apopíticas. (p. 31);
  • A linguagem barroca se compraz no suplemento, na demasia e na perda parcial de seu objeto. (p. 33);
  • Todo escritor depende do meio, das concepções e da ideologia de seu público. (p. 39);
  • “estetizar para nós (...) os sentimentos” e “as observações”, I,10): “o seu sonho, a sua dor, o seu júbilo, a sua modesta visão das coisas e do semelhante”. (p. 45);
  • A coragem ou espontaneidade do gratuito é prova de amadurecimento, no indivíduo e na civilização; aos povos jovens e aos moços, parece traição e fraqueza. (p. 48);
  • “Os artistas incompreendidos, ou desconhecidos em seu tempo, passam realmente a viver quando a posteridade defina afinal o seu valor”. (p. 50);
  • Tanto mais que o Barroco – e não apenas entre nós – foi, a seu modo, uma arte da comunicação lúdica, do comprometimento persuasivo, como também da efetividade erótica e da desafeição satírica, ambas formas de afetar um público de destinatários bastante corpóreos; não por nada Gregório despertou ódios e foi “despachado” para Angola. (p. 50);
  • “É que no Brasil, embora exista tradicionalmente uma literatura acessível, na grande maioria, verifica-se a ausência de comunicação entre o escritor e a massa” (...). (p. 51);
  • Pergunta-se então: guardadas as proporções, o que terá mudado essencialmente em nosso “sistema literário”, desde as “ralas e esparsas manifestações sem ressonância” de nossa pré-literatura assistemática? (p. 51);
  • “A poesia se converte em prosa”. (p. 52);
  • “Gôngora acabou sendo, por suas poesias de mau gosto, o corifeu do culteranismo, defeituoso amaneiramento literário, chamado assim por si dirigirem essas poesias e leitores cultos e não ao vulgo (...)”. (p. 53);
  • Há, portanto, falta de simplicidade, propriedade e clareza na expressão; reunia, assim, o culteranismo os inconvenientes de duas decadências literárias: a decadência alexandrina e a decadência trovadoresca. (p. 54);
  • Durante três séculos, Donne foi caluniado e desprezado pelos acadêmicos e professores, ao ponto de desaparecer o seu nome dos manuais de história literária. (p. 54);
  • (...) Sua poesia-satírica, mas também religiosa e lírica-é das que tem maior frescor no Peru colonial. (p. 55);
  • A importância das obras de Mattos transcende a sua óbvia significação como reflexos acurados sobre a vida brasileira do século XVII. (p. 56);
  • Mattos deve ser considerado como um dos três preeminentes poetas do Novo Mundo nesse período. (p. 56);
  • Todos esses poetas-Gregório, Caviedes, Camargo-teriam inexistido em “perspectiva histórica”. (p. 58);
  • De previdência se trata: Fortleben, como diz Walter Bejamin quando fala da sobrevivência das obras literárias para além da época que as viu nascer. (p. 59);
  • “Quando nos colocamos ante o texto, sentimos, em boa parte, como os antecessores imediatos, que nos formaram, e os contemporâneos, a que nos liga a comunidade de cultura; acabamos chegando a conclusão parecidas, ressalvada a personalidade por um pequeno timbre na maneira de apresentá-las”. (p. 60);
  • Lê-se em Aurora: “Por trás dos sentimentos há juízos e estimativas de valor que nos foram legados na forma de sentimentos (propensões, aversões)”. (p. 61);
  • Confiar em seu sentimento, - isto significa obedecer mais ao seu avô, e aos avós deles, do que aos deuses que estão em nós: nossa razão e nossa experiência. (p. 61);
  • De fato, se pensarmos, com Walter Benjamin, que “a história é objeto de uma construção, cujo lugar não é o tempo homogênio e vazio, mas antes um tempo carregado de agoridade”. (p. 62);
  • Nossa literatura, articulando-se com Barroco, não teve infância (in-fans, o que não fala). Não teve origem “simples”. Nunca foi in-forme. Já “nasceu” adulta, formada, no plano dos valores estéticos, falando o código mais cobrado na época. (p. 64);
  • Assim também a maturidade formal (e crítica) da contribuição gregoriana para a nossa literatura não fica na dependência do ciclo sazonal cronologicamente e proposto pela Formação. (p. 64);
  • Nossa “origem” literária, portanto não foi pontual, nem “simples” (numa acepção organicista, genético-embrionária.). (p. 64);
  • Assim como os cânones não são “eternos” e o belo é historicamente  relativo, também não há falar em influência demão única, que não seja reprocessada e rediferenciada no novo ambiente que a recebeu (como aponta Mukarovsky a propósito da questão da literatura dos “povos pequenos” . (p. 65);
  • “É com Gregório, que sua poesia da “função lúdico-poética”, com sua poética da “salvação através da linguagem” (Wisnik), que sincronizam” e “dialogam” o João Cabral, engenheiro de poemas combinatórios, ou a vanguarda que, já em 1955 propugnava por uma “obra de arte aberta” e por um “neobarroco”. (p. 66);
  • “Gregório é o nosso primeiro poeta ‘popular’, com audiência certa não só entre intelectuais como em todas as camadas sociais, e consciente aproveitador de temas e de ritmos da poesia e da música populares; o nosso primeiro poeta ‘participante’, no sentido do contemporâneo; poeta de admiráveis recrusos técnicos; e um barroco típico: assimilador e continuador da experiência neoclássica da Renascença, sensualista visual, ‘fusionista’ (harmonizador de comentários), ‘feista’ (utilizando temas convencionalmente ‘feios’), amante dos pormenores, culteranista, conceitualista, etc”. (p. 67);
  • Presente, como inscrição em linha d’água, Gregório sempre esteve, no miolo do próprio código barroquista de que ele foi operador excepcional entre nós. (p. 68);
  • A grande concórdia da “literatura integrada” só se deixa estabelecer – e recapitular como tal – pondo à margem, “dês-agregando” o Guesa sousandradino (como antes, para simplificar a “questão da origem”, Gregório e o Barroco haviam segregados no limbo...). (p. 71);
  • Gregório de Matos, “o primeiro antropófago experimental da nossa poesia”, como o via Augusto de Campos, contibuiu pioneiramente para que possamos pensar esse paradigma aberto, não-dogmático, não-verocêntrico. E é por isso também que o reivindicamos, no tricentéssimo quinquagésimo aniversário de sue nascimento na “cidade da Bahia”. (p. 76);
  • O romantismo continua a ser enfatizado por seu “maior poder de comunicação imediata”. (p. 77).

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