sexta-feira, 10 de agosto de 2012

RESENHA: MAGALDI, Sábato. Iniciação ao Teatro. In: Qualificativos em voga e Destino do teatro. Editora Ática. São Paulo, 2002.


RESENHA

MAGALDI, Sábato. Iniciação ao Teatro. In: Qualificativos em voga e Destino do teatro. Editora Ática. São Paulo, 2002.

Ludemberg Pereira Dantas

O livro Iniciação ao Teatro de Sábato Magaldi, especificamente o capítulo 11: “Qualificativos em voga” apresenta o conceito de teatro, trazendo a relação do mesmo como pertencente ao meio social e popular. O autor segue suas afirmações com a intenção de apresentar o teatro como algo presente na vida e no cotidiano do homem contemporâneo, fazendo-se presente também no futuro, com a intenção de mostrar que a arte cênica sempre estará viva.
Com o desenvolver de sua escrita, Magaldi traz características do teatro com o objetivo de mostrar para o leitor que a dramaturgia é uma arte que tem um papel de extrema necessidade para a vida do ser humano, sendo assim, o homem passa direta ou indiretamente a fazer parte, passa participando como ator, ou mesmo na posição de espectador. O autor traz várias expressões de teatros, a fim de demonstrar diversas definições na hora da representação dramática, destacando:
O boulevard: o teatro onde a comédia é apresentada de forma rápida, sem muitos cunhos intelectuais, com a intenção mesmo de divertir o público.
A vanguarda: “com suas situações e linguagens de clichês”. (p, 101), apresentando a subjetividade e liberdade dos valores burgueses.
 Teatro político: com uma ideologia marxista, buscando aparentar os interesses da classe dominante com o interesse coletivo, a fim de criar-se um objetivo revolucionário, com luta de classes, fazendo referência a Erwin Piscator, Teatro político: “o valor pessoal de um ator é um valor independente da função em si, um elemento estético próprio (p. 80)” (p. 103).
Teatro épico: sendo uma representação mais natural, diferente da tragédia, onde faz do espectador um observador crítico, despertando-o sua atividade, obrigando-o a decisões e opondo-se nela.
Teatro social: parte integrante da dramaturgia com garras da sociedade, trazendo como exemplo os clássicos da literatura, instigando que o teatro em si tem a função social, onde todo um povo vive o teatro como uma arte.
Teatro popular: a forma prática de exprimir uma arte social, rompendo as barreiras de classes, com a participação ativa de todos os povos, estudantes, funcionários, operários, telegrafistas, donas de casas, a fim de levarem a representação cênica para toda uma massa, com a presença do ator, texto e público.
Teatro pobre: uma única resposta condiz com a essencial ao teatro: “a presença física do ator diante do espectador. Há teatro sem cenários, sem figurinos, sem música, sem maquilagem e até mesmo sem texto. Só não há teatro sem ator e ao menos um espectador”. (p. 108).
Criação coletiva: “Quando se organiza um elenco, é melhor que seus integrantes tenham formação em comum, sintam afinidades profundas em relação aos problemas de qualquer natureza e desejam exprimir visão própria da arte e da vida”. (p. 109).
O happening: “Toda a arte é mágica, ou, então, na é arte”. (p. 111).
Teatro do oprimido: surge com a ideia de que o espectador se transforma em protagonista, o objeto em sujeito, o morto em vivo, e assim por diante, criando uma representação de que o oprimido no caso seria as classes nos seus interiores.
No capítulo 12: “Destino do teatro”, Sábato traz o teatro como uma arte e sua representação universal, ao mesmo tempo com uma profunda existência de significados, aonde os participantes “vêm sofrer” consequências de uma escassa para a sociedade capitalista. Isso porque o teatro em meio a todo um processo político e histórico sofre certo preconceito. Segundo Peter Brook: “o teatro não é mais uma arte; ou é uma arte inútil”. (p.114). Nessa concepção, por mais que o teatro chegue a sofrer suas recaídas, desilusões financeiras, pressupõe que, quem vive do teatro o vive pela emoção, satisfação pela arte, na vida e no palco.
O cinema e a televisão são apresentados no livro na perspectiva de mostrar que o teatro “foi” substituído por espetáculos de nosso tempo, nas telas do cinema e da televisão, repercutindo com apresentações em vasto poder de divulgação, intelectualidade e modernização. Enquanto isso, o teatro de palco continua existindo como um conceito artesanal, e ambos (cinema e TV), são frutos de uma industrialização, onde o meio é o produto e as massas os produtores. “Cada espetáculo teatral é único, não se repetindo nunca o desempenho dos intérpretes e a emoção do público. Um simples espectador inquieto altera o clima da sala, e a atuação naquela noite se ressente com a presença estranha”. (p.116).
O palco é relatado como o local onde o ator vive sua comunicação direta com o público, com grande papel social: “Como o ator está no palco e a palavra é dom admirável do homem, a literatura pertence intrinsecamente à arte dramática. A cultura reclama a existência do teatro. E, queiram ou não os donos do poder, como as conquistas culturais atingirão paulatinamente as massas, a arte dramática não deixará de prosperar. Um mundo entregue aos lazeres culturais caminha para tonar-se amante do palco.” (p. 118).
Assim, é visto em todo o percurso do desenvolvimento da história do teatro e nas afirmativas do autor, que a luta incessante de viver da arte, especificamente do teatro de palco, sempre foi, o é e ainda será “uma tarefa árdua”, no sentido de que muitos dos artistas desanimam, com exemplos de grandes talentos que levados pelo cansaço, acabam trilhando para outras atividades, na intenção da rentabilidade financeira. Ainda assim, existem homens e mulheres (artistas), que continuam fiéis, vivendo do teatro, da satisfação em fazer de sua vida, uma arte, permanecendo focados, mesmo que as circunstâncias exteriores (o lado financeiro) não sejam favoráveis, ou talvez sim, mas com a certeza de que vale a pena viver em favor de um mundo melhor, do palco, do público, do teatro e duas artes.
Portanto, a presente obra é indicada a todos os estudantes do curso de Letras, Comunicação, Artes Cênicas e demais cursos da área das ciências humanas, como também a alunos, professores, pesquisadores, quem têm na leitura a satisfação em beber de significações, que valorizam a arte no geral, como também entre todos que têm pelo teatro a paixão, o prazer e amor que se deve ter pela vida.

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