RESENHA
MAGALDI, Sábato. Iniciação ao Teatro. In: Qualificativos em voga e Destino do teatro. Editora Ática. São Paulo, 2002.
Ludemberg Pereira Dantas
O livro Iniciação ao Teatro de
Sábato Magaldi, especificamente o
capítulo 11: “Qualificativos em voga”
apresenta o conceito de teatro, trazendo a relação do mesmo como pertencente ao
meio social e popular. O autor segue suas afirmações com a intenção de
apresentar o teatro como algo presente na vida e no cotidiano do homem
contemporâneo, fazendo-se presente também no futuro, com a intenção de mostrar
que a arte cênica sempre estará viva.
Com o desenvolver de sua escrita, Magaldi traz características do teatro
com o objetivo de mostrar para o leitor que a dramaturgia é uma arte que tem um
papel de extrema necessidade para a vida do ser humano, sendo assim, o homem
passa direta ou indiretamente a fazer parte, passa participando como ator, ou
mesmo na posição de espectador. O autor traz várias expressões de teatros, a
fim de demonstrar diversas definições na hora da representação dramática, destacando:
O boulevard: o teatro onde a
comédia é apresentada de forma rápida, sem muitos cunhos intelectuais, com a
intenção mesmo de divertir o público.
A vanguarda: “com suas
situações e linguagens de clichês”. (p, 101), apresentando a subjetividade e
liberdade dos valores burgueses.
Teatro político: com uma ideologia marxista, buscando aparentar os
interesses da classe dominante com o interesse coletivo, a fim de criar-se um
objetivo revolucionário, com luta de classes, fazendo referência a Erwin
Piscator, Teatro político: “o valor
pessoal de um ator é um valor independente da função em si, um elemento
estético próprio (p. 80)” (p. 103).
Teatro épico: sendo uma
representação mais natural, diferente da tragédia, onde faz do espectador um
observador crítico, despertando-o sua atividade, obrigando-o a decisões e
opondo-se nela.
Teatro social: parte integrante
da dramaturgia com garras da sociedade, trazendo como exemplo os clássicos da
literatura, instigando que o teatro em si tem a função social, onde todo um
povo vive o teatro como uma arte.
Teatro popular: a forma prática
de exprimir uma arte social, rompendo as barreiras de classes, com a
participação ativa de todos os povos, estudantes, funcionários, operários,
telegrafistas, donas de casas, a fim de levarem a representação cênica para
toda uma massa, com a presença do ator, texto e público.
Teatro pobre: uma única
resposta condiz com a essencial ao teatro: “a presença física do ator diante do
espectador. Há teatro sem cenários, sem figurinos, sem música, sem maquilagem e
até mesmo sem texto. Só não há teatro sem ator e ao menos um espectador”. (p.
108).
Criação coletiva: “Quando se
organiza um elenco, é melhor que seus integrantes tenham formação em comum,
sintam afinidades profundas em relação aos problemas de qualquer natureza e
desejam exprimir visão própria da arte e da vida”. (p. 109).
O happening: “Toda a arte é
mágica, ou, então, na é arte”. (p. 111).
Teatro do oprimido: surge com a
ideia de que o espectador se transforma em protagonista, o objeto em sujeito, o
morto em vivo, e assim por diante, criando uma representação de que o oprimido
no caso seria as classes nos seus interiores.
No capítulo 12: “Destino do teatro”,
Sábato traz o teatro como uma arte e sua representação universal, ao mesmo
tempo com uma profunda existência de significados, aonde os participantes “vêm sofrer”
consequências de uma escassa para a sociedade capitalista. Isso porque o teatro
em meio a todo um processo político e histórico sofre certo preconceito. Segundo
Peter Brook: “o teatro não é mais uma
arte; ou é uma arte inútil”. (p.114). Nessa concepção, por mais que o
teatro chegue a sofrer suas recaídas, desilusões financeiras, pressupõe que,
quem vive do teatro o vive pela emoção, satisfação pela arte, na vida e no palco.
O cinema e a televisão são apresentados no livro na perspectiva de
mostrar que o teatro “foi” substituído por espetáculos de nosso tempo, nas
telas do cinema e da televisão, repercutindo com apresentações em vasto poder
de divulgação, intelectualidade e modernização. Enquanto isso, o teatro de
palco continua existindo como um conceito artesanal, e ambos (cinema e TV), são
frutos de uma industrialização, onde o meio é o produto e as massas os
produtores. “Cada espetáculo teatral é único, não se repetindo nunca o
desempenho dos intérpretes e a emoção do público. Um simples espectador
inquieto altera o clima da sala, e a atuação naquela noite se ressente com a
presença estranha”. (p.116).
O palco é relatado como o local onde o ator vive sua comunicação direta
com o público, com grande papel social: “Como o ator está no palco e a palavra
é dom admirável do homem, a literatura pertence intrinsecamente à arte
dramática. A cultura reclama a existência do teatro. E, queiram ou não os donos
do poder, como as conquistas culturais atingirão paulatinamente as massas, a
arte dramática não deixará de prosperar. Um mundo entregue aos lazeres
culturais caminha para tonar-se amante do palco.” (p. 118).
Assim, é visto em todo o percurso do desenvolvimento da história do teatro
e nas afirmativas do autor, que a luta incessante de viver da arte,
especificamente do teatro de palco, sempre foi, o é e ainda será “uma tarefa
árdua”, no sentido de que muitos dos artistas desanimam, com exemplos de
grandes talentos que levados pelo cansaço, acabam trilhando para outras
atividades, na intenção da rentabilidade financeira. Ainda assim, existem
homens e mulheres (artistas), que continuam fiéis, vivendo do teatro, da satisfação
em fazer de sua vida, uma arte, permanecendo focados, mesmo que as
circunstâncias exteriores (o lado financeiro) não sejam favoráveis, ou talvez
sim, mas com a certeza de que vale a pena viver em favor de um mundo melhor, do
palco, do público, do teatro e duas artes.
Portanto, a presente obra é indicada a todos os estudantes do curso de
Letras, Comunicação, Artes Cênicas e demais cursos da área das ciências humanas,
como também a alunos, professores, pesquisadores, quem têm na leitura a satisfação
em beber de significações, que valorizam a arte no geral, como também entre
todos que têm pelo teatro a paixão, o prazer e amor que se deve ter pela vida.
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