quinta-feira, 5 de abril de 2012

Pré-Modernismo e Modernismo


Pré-Modernismo


Ludemberg Pereira Dantas

            Na virada do século XIX para o século XX, muitos acontecimentos alteraram o rumo da história mundial e brasileira. No ano de 1914 deu-se início, em todas as nações da Europa, à Primeira Guerra Mundial, uma guerra nunca vista até então. O seu fim teve o registrado em seus escombros de 10 milhões de mortos, fábricas destruídas, além de uma dívida externa monstruosa, dando espaço à nova potência mundial: os Estados Unidos da América.
            Nas primeiras décadas do século XX, tinha-se o café como matéria-prima, onde se encontrava em São Paulo 75% de todo o café consumido no mundo, sendo as demais proporções distribuídas entre as outras partes do país a exemplo da borracha no Norte e o cacau na Bahia.
            O cinema: foi a invenção que mais sofreu impacto. Sua primeira apresentação ocorreu no Rio de Janeiro, em 1896. Milhares de pessoas quiseram assistir às projeções do “omniographo”, com era chamada a máquina. Com o tempo, transformou-se em uma mania e incendiou as imaginações.
            A música: Ás véspera da Proclamação da República, o imperador grava sua voz em um fonógrafo. Ouviam-se naquele tempo, composições eruditas e populares, como o maxixe, a modinha e a toada. O carnaval, pouco a pouco, firmava-se como a principal festa popular carioca.
            A pintura: seguia no mais puro estilo acadêmico, refletindo os temas e o ambiente da elite. Anita Malfatti promoveu uma exposição que despertaria a curiosidade, o entusiasmo e até a revolta de alguns, motivados pelas técnicas inovadoras de sua pintura.
            A partir de então, houve uma preocupação com a realidade nacional, com ênfase social em uma literatura participante.
            Augusto dos Anjos: nasceu e viveu até os 24 anos na Paraíba. Embora formado em advocacia, foi professor de literatura a vida toda. Divulgava seus poemas em jornais. Eu seu livro Eu, explora as temáticas da morte, do nada e da decomposição da matéria, sendo, por este motivo considerado pela crítica, o poeta do mau gosto, do grotesco.
            Lima Barreto: dono de uma obra considerada polêmica. Denunciava as injustiças sociais, o preconceito contra os negros e mulatos pobres, além de atacar os políticos e os “ditos” importantes da época. Como escritor, acreditava que a literatura devia espelhar os sentimentos e ideias do autor, tendo em seus livros sempre referências autobiográficas. As perseguições de que foi vítima, principalmente as demonstrações de preconceito racial, refletiram em sua saúde, em frequentes crises de depressão, levando-o ao vício da bebida.
            Monteiro Lobato: agarra a bandeira do progresso social e mental de nossa gente. Como civilizador, moralista, nacionalista e pedagogo, sua fama estende-se até hoje, marcada, principalmente pelas criaturas do Sítio do Pica Pau Amarelo, que povoam a fantasia de muitas gerações de leitores. Foi o primeiro escritor brasileiro a se dedicar às crianças. O primeiro a trata-las como seres pensantes, capazes de refletir sobre assuntos “sérios” e juízos contraditórios a fim de formar uma convicção própria. Seu sítio representa, no plano do imaginário, um mundo paralelo de referências à cultura popular e espaço de utopia: nele não há lugar para o autoritarismo paterno e político. Morre aos 66 anos deixando “milhares de netos” espalhados por todo o Brasil.
            Euclides da Cunha: temos como referência a obra Os Sertões, descrevendo os impasses desses dois extremos do país: o litoral e o sertão. A obra é uma fusão de romance e ensaio científico, relato histórico e reportagem jornalística, o que torna difícil enquadrá-la nos limites de um gênero literário. Traz as questões da terra, do homem e da luta, de forma determinista.
            A Semana de Arte Moderna: o Brasil completava no ano de 1922, um século de autonomia política. Este fato levou os jovens intelectuais da época a desejarem comemorar o surgimento de uma inteligência revolucionária, que refletisse um país livre.  A vida social desse período, entre a magia do cinema e o terror da guerra, é dominada pela presença da máquina e da velocidade. Nessa atmosfera inquieta, a política, a arte, a ciência e a cultura sofrem um processo de renovação permanente. A chamada era moderna. Entre os movimentos da vanguarda, destacam-se:
O Futurismo: “A arte-ação”. Exaltava a imagem de um “mundo novo”, dominado por “homens-máquina” que desprezavam o passado (museus, bibliotecas) e exigiam da literatura a “bofetada”, o “soco” e as “ideias que matam”, uma nova ordem, impulsionando toda a literatura de vanguarda. No Brasil, por exemplo, até 1922, os modernistas eram conhecidos como futuristas.
O Dadaísmo: “A arte precisa de uma cirurgia”. Para os dadaístas não havia passado, nem futuro: o que havia era a guerra, o nada; e a única coisa que restava ao artista era produzir uma antiarte, uma antiliteratura.
O Cubismo: “As formas geométricas”. Negava-se completamente a perspectiva clássica que estabelece a continuidade do contorno das formas. Nessa tentativa de reeducar o olho humano, o que os cubistas propuseram, fundamentalmente, é a mudança da noção de perspectiva.
O Expressionismo: Caracterizava a arte criada sob o impacto do sofrimento humano. O traço exótico dos artistas era influenciado pela arte primitiva e popular: máscaras e estátuas. Houve um rompimento com a tradição da beleza clássica. O importante era o registro da expressão do mundo. Valorizaram os mitos, os sonhos, tudo aquilo que escapa ao controle lógico do homem.
O Surrealismo: O último movimento da vanguarda europeia. Baseavam-se na onipotência do sonho. Isso significa fundir a imaginação – que dorme no subconsciente – com a razão. Unir o maravilhoso do sonho, dos estados de alucinação e até de loucura do homem, com a realidade exterior. Os surrealistas eram atraídos pelo sonho e pela fantasia, pela tristeza e pala melancolia, perseguindo, como artistas, o desejo de expressar o inexprimível.
“Diversos intelectuais de São Paulo devido à iniciativa do escritor Graça Aranha, resolveram organizar uma semana de arte moderna dando ao nosso público a perfeita demonstração do que há em nosso meio de escultura, pintura, arquitetura, música e literatura sob o ponto de vista rigorosamente atual.
(...) Assim será aberto o Teatro Municipal durante a semana de 11 a 18 de  de 1922, instalando-se aí uma curiosa e importante exposição, para a qual concorrem os nossos melhores artistas modernos. (...)”.

Modernismo

1ª Fase:

            Para consolidar os ideais estéticos da Semana de Arte Moderna houve mobilização de intelectuais, em alguns estados do país, no sentido de criar revistas literárias e divulgar manifestos inspirados na revolução pela qual passava o conceito de arte. A primeira fase modernista, ou “fase-heroica”, que vai de 1922 até 1930, foi classificada, pelo próprio Mário de Andrade, de oito anos de orgia intelectual.
            O dilema da busca de uma única e verdadeira identidade nacional, de uma “brasilidade”, foi o grande equívoco dessa geração. Depois de mais de 70 anos da Semana de Arte Moderna, críticos questionam se de fato existe uma única raiz à qual todos nós pertencemos. Sem dúvida, seria uma tarefa difícil buscar o ponto comum dessa formação complexa que é o povo brasileiro.
            Sob essa perspectiva é que obras desse período procuraram representar a multiplicidade étnica, social e cultura do Brasil, criando personagens que traduzissem ou sintetizassem nossa identidade.
Como exemplo, destaca-se o romance Macunaíma de Mário de Andrade, obra mais representativa dos ideais modernistas: “Macunaíma, índio branco catimbeiro, negro sonso, feiticeiro, Mata a cobra e dá um nó”. O subtítulo da obra, “o herói sem nenhum caráter”, reforça a formação desse protagonista que reúne, em sim, inúmeros valores, sem escalas morais ou éticas fixas. Aliás, seu caráter oscila entre o bom e o mau, o ingênuo e o esperto, o covarde e o corajoso, o lírico e o cético. É individualista, vaidoso, mentiroso, desbocado e pratica inúmeras “safadezas”. Quanto à sua espiritualidade, cumpre o sincretismo religioso; ele é, ao mesmo tempo, católico, espírita e adepto ao candomblé, além de crer que irá encontrar uma panela com dinheiro enterrado.
Mário de Andrade, um dos idealizadores da estética modernista, destacando-se como grande estudioso do nosso folclore e de nossa música. Sua contribuição, entretanto, para a cultura brasileira concentrou-se na poesia e na prosa: nome que se dá à forma de um texto escrito em parágrafos, sem grandes preocupações com ritmo, métrica, rimas, aliterações e outros elementos sonoros, e pode designar também um tipo de conteúdo (um texto cuja função linguística predominante não é a poética, como por exemplo, um livro técnico, um romance, uma lei, etc...). Considerado o intelectual mais influente de sua época.
            Várias revistas foram fundadas por todo o país, como forma de divulgação das ideias modernistas. A primeira delas, lançada em São Paulo, em 15 de maio de 1922, foi batizada revista KLAXON, sendo a mais original em termos de programação visual.
       
2ª Fase:

Tida como a geração de 30, com os fatos que transformaram o cenário social e cultura da história brasileira, encorajando intelectuais de esquerda a denunciar problemas sociais em suas poesias. Houve nesse período uma aproximação intensa entre literatura e sociedade.
Nesta década, artistas e intelectuais “descobrem o Brasil”. A literatura, a música, a pintura, o teatro e o cinema vão ao encontro das contradições vividas pelo povo brasileiro, pesquisando sua realidade, social, espiritual e cultural. Uma projeção ideológica, com discussão da função da literatura e do papel do escritor. Desejo e busca de uma expressão artística nacional.
Nessa 2ª fase, a poesia busca compreender este novo mundo transformado e desconcertante, recorrendo, às vezes, à religiosidade e ao surrealismo para expressar a visão de mundo do artista.  Houve em grupo de poetas, nesse período, que se destacou pela abordagem de temas ligados ao catolicismo. Murilo Mendes, Vinícius de Moraes e Cecília Meireles estão entre os poetas que viram na religião um motivo poético.
Cecilia Meireles: Sensível, com uma visão de mundo equilibrada, filosófica, pôde poetizar a dor e a solidão humanas. Os temas de morte, da solidão, do silêncio e a consequente serenidade contemplativa seriam seus motivos de criação poética.
Entre outros escritores da 2ª fase, se destacam: Jorge de Lima, Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, Murilo Mendes, todos da década de 30, idealizadores de uma poesia de denúncias sociais.
A 2ª fase também foi marcada pelo regionalismo. As lutas entre o homem e o seu semelhante e homem e a natureza foram temas centrais dessas narrativas, denominadas “romance nordestino”, “neorrealismo”, “neonaturalismo”. Destacaram-se como nomes fortes: Raquel de Queiroz (um sertão feminino), José Lins do Rego (a memória dos engenhos), Jorge Amado (um mar de histórias), Graciliano Ramos (uma solidão agreste) e Érico Veríssimo (o romancista do sul).

3ª Fase:

            Alguns estudiosos consideram a fase de 1945 até os dias de hoje como Pós-Modernista, no entanto, outras fontes, tratam como Terceira Fase do Modernismo o período compreendido entre 1945 e 1960 e como Tendências Contemporâneas o período de 1960 até os dias de hoje. Nesta terceira fase, a prosa dá sequência às três tendências observadas no período anterior – prosa urbana, prosa intimista e prosa regionalista, com certa renovação formal.
A literatura brasileira, assim como o cenário sócio-político, passa por transformações.
Guimarães Rosa: A obra de G. Rosa é extremamente inovadora e original.  O livro Grande Sertão: Veredas (1956), romance narrado em primeira pessoa por Riobaldo num monólogo ininterrupto onde o autor e o leitor parecem ser os ouvintes diretos do personagem, G. Rosa recuperou a tradição regionalista, renovando-a.
Sua narrativa é entremeada por reflexões metafísicas em torno dos acontecimentos e dois fatos se repropõem constantemente: seu pacto com o Diabo e seu amor por Diadorim (na verdade, Deodorina, filha de Joca Ramiro, disfarçada de jagunço). As dúvidas de Riobaldo têm raízes místicas e sua narrativa torna-se então não mais um documento regionalista, mas uma obra de caráter universal, que toca em problemas que inquietam todos os homens: o significado da existência, as dimensões da realidade. Mas não é só isto que é novo em G. Rosa: sua linguagem é extremamente requintada.
Clarice Lispector: Ucraniana, veio com meses para o Brasil - por isso, sentia se “brasileira”. Tem por formação Direito. Em 1944 forma-se e publica o livro que escreveu durante o curso - Perto do Coração Selvagem surpreendendo a crítica e agradando ao público.
Casa-se com um diplomata, afastando-se do Brasil durante longos períodos, mas sem interromper a produção artística. Principal nome da poesia intimista da moderna literatura brasileira, questionamento do ser, do “estar-no-mundo.
Suas principais personagens são mulheres, mas não se limitam ao espaço do ambiente familiar: Clarice visa a atingir valores essenciais humanos e universais tais como a falsidade das relações humanas, o jogo das aparências, o esvaziamento do mundo familiar, as carências afetivas. “Depois que descobri em mim mesma como é que se pensa, nunca mais pude acreditar no pensamento dos outros”.
Enquanto Guimarães Rosa preocupa-se com a manutenção do enredo com o suspense, Clarice abandona quase que completamente a noção de trama e detém-se no registro de incidentes do cotidiano ou no mergulho para dentro dos personagens.

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