quarta-feira, 4 de abril de 2012

A SEDUÇÃO DO DISCURSO: O JORNAL NACIONAL


A SEDUÇÃO DO DISCURSO: O JORNAL NACIONAL



Ludemberg Pereira Dantas

A TV utiliza uma linguagem considerada como sendo um discurso sem resposta, ou seja, o discurso é passado ao telespectador sem lhe dar oportunidade de agir como sujeito;

O Jornal Nacional é um programa jornalístico emblemático da Rede Globo;

Foi ao ar pela primeira vez em 01 de setembro de 1969, numa dobradinha com o horário de novelas, permanece assim até hoje, primeiro programa em rede nacional, gerado no Rio de Janeiro e retransmitido para todas as emissoras da rede;

Do período de 1969 a 1980, o jornal se manteve como líder de audiência criando e consolidando um modelo de telejornalismo que se caracterizava pelo apuro técnico das imagens, pela uniformidade lingüística e ideológica, austeridade, imparcialidade e objetividade;

Sua estrutura é dividida por assuntos. No princípio, aqueles relacionados a problemas sociais, conflitos internacionais, violência. Em seguida, assuntos políticos. Por fim, notícias mais amenas: futebol, música, cinema, etc. Oferecendo essa disposição das notícias, a estratégia do JN é a de não causar mal estar em seu público;

A abordagem do JN procura despachar imediatamente, intercalando por intervalos comerciais as piores notícias, deixando as reportagens mais descompromissadas para o final do programa, terminando levemente o jornal, lembrando que a TV é encarada como um meio de relaxamento e de consumo, se portando como produto, não pode agredir o telespectador;

Ao realizar a ordem de entrada dos assuntos, o JN revela uma ideologia positiva em seu discurso;

Em relação às notícias mais pesadas e sérias, a abordagem se caracteriza pela emotividade, apelando para a sensibilidade do telespectador;

A disputa pela audiência faz com que à ética seja colocada em segundo plano na elaboração de matérias jornalísticas quando se pretende divulgar um “furo” jornalístico;

As notícias são dadas como se fossem capítulos de uma minissérie. Ex: “Os depoimentos exclusivos e a prisão de dez policiais militares você vai ver amanhã, aqui no JN”;

A atividade jornalística e sua execução são usadas, sedutoramente, aproximando o público e o telejornal; é mostrado como a televisão entra e constrói o acontecimento;

As narrações antecipam os acontecimentos dirigindo a atenção do espectador;

A atividade jornalística e sua execução são usadas sedutoramente aproximando o público e o telejornal, é mostrado como a televisão entra e constrói o acontecimento;

Não há como considerar a linguagem como um dado e nem a sociedade como um produto, pois ambas se constituem mutuamente, sendo assim não dá para estudar a linguagem apartada da sociedade que a produz;

A Análise do Discurso prefere trabalhar com um arquivo textual, ou seja, um conjunto de “documentos pertinentes e disponíveis sobre uma questão”, completando que o sentido de um texto se completa quando este outro que ressoa um outro em uma cadeia infinita;

O sentido não está no texto, mas na relação que evoca com quem o produz – o locutor – com o destinatário – o alocutário – e com outros textos retomados, se denominado a intertextualidade e outros discursos (interdiscursividade);

A sedução do discurso do Jornal Nacional passa pela utilização de meios disponíveis como imagens, sons, dramatização, recursos de computação gráfica para a criação da matéria jornalística;

A combinação de texto com imagem acompanhada de som quer seja de uma narrativa ou até mesmo de efeito sonoro apropriado faz com que o espectador se sinta completamente atraído, como que hipnotizado por essa poderosa mistura de elementos de comunicação que acabam por envolver a maioria de nossos sentidos, caracterizando-se assim num elemento sedutor e totalmente alienante;

Na enunciação, a utilização da linguagem bem elaborada e de fácil compreensão e o uso de palavras sedutoras, muitas vezes com forte teor apelativo, enfocando um determinado fato visa atingir um objetivo específico e por não solicitar do espectador o sentido do raciocínio, essa mistura, passa via de regra, sem qualquer filtro sensor diretamente a nossa memória sendo admitida como verdade absoluta;

O sensacionalismo da notícia de sedução da violência produz o efeito de sentido igual a outros programas sensacionalistas, como Cidade Alerta, por exemplo – choca, julga, condena – repulsa, manipulando o espectador a envolver ou afastar-se da cenografia jornalística construída.

01/02/2010.
REFERÊNCIAS:

BENVENISTE, Emile. Problemas de lingüística geral II. Campinas. São Paulo.
Pontes.1989.

GREGOLIN, Maria do Rosário (org.) Análise do discurso: as materialidades do
sentido. São Carlos. São Paulo. Claraluz.2003.

MAINGUENEAU, Dominique. Análise de textos de comunicação. Campinas. São
Paulo. Pontes.1998.

SODRÉ, Muniz. O monopólio da fala. Petrópolis. Rio de Janeiro. Vozes. 1981.

SZPACENKOPF, Maria Izabel Oliveira. O olhar do poder: a montagem branca e a
violência no espetáculo telejornal. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 2003

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